Jalapão - Ponte Alta do Tocantins
Foto 01 - Arraias - A primeira cidade de Tocantins
Eu parti de Arraias ás 7 horas da manhã com destino a Palmas. Quando estava chegando a Porto Nacional, uma cidade a margem do rio Tocantins, tive a brilhante idéia de descer lá e pegar um busão diretamente para Ponte Alta do Tocantins, a primeira cidade do Jalapão. Cheguei lá ao meio-dia do domingo, estava tudo fechado, além de não existir caixa eletrônico na rodoviária, nem bagageiro para eu deixar às malas. Bem, como não tinha muito dinheiro, tive que abortar a idéia de ir direto para o Jalapão. Tive que pegar um ônibus de Porto Nacional para Palmas, para tentar sacar dinheiro (Foto - 02).
Foto 02 - Ônibus Porto Nacional/Palmas
Chegando na rodoviária de Palmas, tentei sacar dinheiro no caixa eletrônico, tendo como resposta que a operação não era autorizada pelo banco. Isto foi um aviso para desistir da idéia, mas como sou brasileiro e não desisto nunca, resolvi tentar ir até o aeroporto tentar sacar uma grana, senão, teria que voltar mais cedo para casa (melhor opção a ser escolhida naquela hora). Entretanto, peguei um moto-taxi e fui até o aeroporto. No aeroporto, tentei sacar uma grana e o dinheiro também não saia. Não sei o que aconteceu, mas depois de várias tentativas frustradas, consegui, inexpicavelmente, sacar 600 reais. Depois de fazer um pequeno lanchinho, no aeroporto (Foto 03), voltei para o hotel.
Foto 03 - Aeroporto de Palmas
Deixei minhas malas num hotel e chamei um moto-táxi para ir até uma praia no rio Tocantins. Chegando lá, pude apreciar um belo por do sol na praia do rio Tocantins (Foto 04). Saindo de lá, tentei pegar um táxi, mas não havia nenhum naquele local. Tentei achar um ponto de ônibus, mas também não havia nenhum. Eu tinha o número de telefone do Moto-táxi, demorei mas acabei achando um telefone público e liguei para vir me buscar.
Foto 04 - Por do sol do Rio Tocantins - Palmas
No dia seguinte peguei um busão para a cidade de Ponte Alta do Tocantins, que tem este nome devido a uma grande ponte no meio da cidade (Fotos 05 e 06).
Foto 05 - Ponte Alta do Tocantins
Foto 06 - Molecada pulando da ponte - Ponte Alta do Tocantins
Foto 07 - O Começo do Jalapão
Foto 08 - Meu glorioso guia, eu tava na garupa desta moto
Eu consegui agendar um passeio de jipe para o Jalapão de 3 dias junto com um casal que chegaria no dia seguinte no hotel, entretanto este casal não apareceu. Conversei com o pessoal do hotel para fazer o passeio sozinho, mas queriam que eu pagasse o passeio inteiro. Claro, desisti. Eu descobri que tinha um cara que fazia o passeio para o Jalapão de moto. Depois de muito custo, consegui encontrar o cara e marquei o passeio para meio dia. O passeio seria de 2 dias, na garupa da moto, sempre voltando para dormir na cidade. Como não tinha outra alternativa, aceitei ir de moto.
No horário combinado, apareceram 2 motoqueiros, o cara que eu tinha combinado e o irmão dele. O cara disse que tinha que trocar algumas peças e dar revisão na moto, para conseguir enfrentar as dunas do Jalapão, no dia seguinte. O passeio daquele dia, eu poderia fazer com irmão dele, que dirigia bem mais devagar e eu poderia treinar para o dia seguinte, pois andaria o dia inteiro na garupa de uma moto. Foi me dito que primeiro andaríamos quase 90 km de moto, passando por estradas de terra, até chegar em uma cachoeira. A partir daí, começaríamos a voltar, visitando várias cachoeiras e pontos turísticos.
Não gosto muito de moto, mas topei, já que não tinha outra alternativa. Começamos, então, o passeio para desbravar o Jalapão (Foto 07 e 08).
Foto 07 - O Começo do Jalapão
Foto 08 - Meu glorioso guia, eu tava na garupa desta moto
Comprei uma garrafa de água e levei um protetor solar, já que voltaríamos para dormir na cidade. O guia dirigia um pouco rápido para meu gosto, mas como nunca tinha andado de moto, achei que a velocidade estava relativamente tranquila. Andamos uns 20 km e o guia parou para tirar algumas fotos (Foto 09) e apreciar a paisagem. Quando estávamos quase chegando na última cachoeira, ou seja, aproximadamente 70 km, veio uma curva para a direita e uma pequena subidinha. No entanto, tinha uma enorme valeta atravessando a pista, provavelmente, foi formada ao longo do tempo para escoar a água dos poucos dias de chuva que ocorrem no deserto do Jalapão.
Quando o guia viu a valeta que cruzava transversalmente a pista, o mesmo tentou brecar a moto, entretanto a velocidade estava muito alta. A moto passou na valeta e tombou para a esquerda, acredito que se o guia estivesse sozinho é bem provável que conseguiria parar a moto sem cair. Entretanto eu eu estava na garupa e quando a moto tombou para a esquerda o guia não aguentou o peso e fomos diretamente para o chão.
A queda demorou apenas alguns segundo, entretanto parecia uma eternidade. Quando tombamos para a esquerda, bati com toda a força o meu joelho esquerdo no chão e a moto caiu por cima da minha perna. Fomos arrastados com minha perna embaixo da moto até parararmos completamente. Eu não conseguia tinha a moto de cima mim, até o guia conseguir levantar a moto. Nesta hora pensei: estávamos caídos no meio do nada, num lugar com a menor densidade populacional do Brasil e a cerca de 70 km, da cidade mais próxima. Que Beleza!!
Foto 09 - (Eu) O Motoqueiro Selvagem
Tentei e consegui, pelo menos não tive nenhum problema na coluna, entretanto tinha batido o joelho, a mão e o peito no chão. Minha camisa estava toda rasgada e minha mão toda ralada. Eu dei uma olhada no joelho e vi que o mesmo tinha uma enorme ralada. Peguei a água que tinha trazido e joguei em cima do joelho para tirar a terra. Aí deu para ver que não era uma ralada, mas sim um buraco gigante no meu joelho esquerdo. Olei dentro do buraco e conseguia ver meus ossos, acho que vi minha rótula. Apesar do enorme buraco, não sentia dor e nem estava sangrando, menos mal.
O guia levantou a moto e tentou dar a partida, no entanto ela não pegou. Pensei, que já era, pois teríamos que andar 70 km, com o joelho arrebentado com grande possibilidade ter uma gangrena, já que não sabia o que tinha furado meu joelho, poderia ser uma pedra pontiaguda ou qualquer outra coisa.
O guia tentou dar partida de novo, mas por sorte dessa vez pegou. Tive que subir novamnete na garupa para tentar voltar para a civilização. Começamos a voltar, mas eu não conseguia dobrar muito meu joelho e tive que ir na garupa da moto com a perna um pouco levantada para não bater no chão, mas uma ou duas vezes não aguentei levantar a perna e bati meu pé no chão. A poeira levantada pela moto estava entrando no meu joelho.
Andamos uns 10 km e fomos pedir ajuda numa fazendinha que ficava a beira da estrada. Chegando lá entrei na casa e passei pela cozinha até o quintal. Fiquei esperando e apareceu uma pessoa, nem lembro se era homem ou mulher, mas veio com uma bacia de água. Nesta bacia a pessoa misturou sal e jogou a mistura no meu joelho. Deve ter doído bastante, mas a adrenalina deixa agente meio grogue. Trouxeram uma folha de bananeira e colocaram a tecnologia disponível. A tecnologia disponível era uma pomada de cataflan que foi passada numa folha de bananeira ou sei lá do que e botaram no meu joelho. Depois disso, enfaixaram com um pano. Disseram que a folha não gruda na pele e por isso é muito usada na região.
Eu achei que iam me levar de carro, mas tive que subir novamente na garupa da moto. Eu levantei o visor do capacete e perguntei quantos km ainda faltavam até a cidade. Me responderam que faltavam 55 km. Engoli seco, ainda estava muito longe. Acho que demoramos mais de 1 hora até a cidade e fomos diretamente para um posto de saúde. Lá olharam meu joelho, limparam, jogaram uns remédios, me receitaram uns antibióticos e enfaixaram. O médico me disse que não iria costurar, pois estava sem tecido, não entendi nada, sóqueria voltar para Palmas, mas o busão só sairia no dia seguinte e demoraria 5 hoaas. Tentei arrumar alguém para me levar de carro.
Achei um cara que me levaria cobrando um real por km. De Ponte Alta do Tocantins até Palmas eram 250 km, entretanto o cara disse que cobrava a ida e a volta. Eu precisava guardar dinheiro para eventualmente pegar um táxi. Lembrei que em Porto Nacional tinha um busão que saía a cada hora para Palmas. Resolvi ir somente até lá e economizar uns 200 reais. Passei no hotel, peguei minhas coisas, joguei uma água no corpo e troquei de camiseta.
Depois de uma hora e meia de carro cheguei em Porto Nacional. Antes de passar na rodoviária, resolvi ir até uma farmácia para tomar os antibióticos receitados. Quando olhei para um relógio e vi que era 18:55h, provavelmente daria para pegar o busão das 19h para Palmas. Tentei correr, mas a perna já tinha esfriado e já não conseguia andar direito, pois o joelho doía bastante.
Entrei no carro com 2 desconhecidos que me levaram para a rodoviária. Quando desci lá, vi o busão Porto Nacional x Palmas (Foto 02), saindo e passando por nós. Eu paguei o dinheiro ao motorista e pedi para ele perguntar que hora sairia o próximo busão para Palmas. Ele me respondeu que sairia somente às 21h, ou seja, chegaria somente às 22h na rodoviária de Palmas. Fiquei sem ação, mas o motorista me disse que o busão passava na cidade de Porto Nacional, antes de pegar a estrada e falou se eu queria tentar achar o busão na cidade. Topei na hora.
Começamos a procurar o busão na cidade, até ver um ao longe. Seguimos o busão por uns 5 pontos de ônibus, até que ele parou num ponto. O motorista fechou o busão, eu desci acenando e consegui entrar nele. Bem! Agora é só mais 1 hora até Palmas. Eu já tinha pago o motorista na rodoviária, então ele não precisava tentar achar o busão na cidade, pois já tinha recebido a grana. Ainda bem que ainda existem pessoas boas nesse mundo.
Chegando em Palmas, peguei um táxi até aeroporto (moto-táxi nunca mais), consegui trocar minha passagem para 5 horas da manhã do dia seguinte, comi um pão de queijo e um café, além de ligar para casa a avisar que tinha tido um ligeiro acidente de moto.
Sentei numa cadeira e comecei a pensar que apesar de tudo, este foi um dia de sorte, se considerarmos as circunstâncias. Eu olhei para o joelho enfaixado e percebi que estava saindo sangue pela faixa e lembrei que o médico falou que não iria costurar porque não tinha tecido. Então, resolvi pegar um táxi até algum hospital. Chegando lá, a enfermeira retirou a faixa, limpou o joelho e me deu uma injeção. O médido apareceu e me perguntou o motivo do outro médico não ter costurado, além de dizer que uma ferida não pode ficar mais de 6 horas aberto, pois neste caso é muito provável que haja infecção. Eu respondi que estava sem tecido, como foi dito pelo outro médico.
O médico começou a limpar o machucado e disse: - Ainda bem que ele não costurou. Olha o que eu achei aqui. o médico me mostrou uma pedra que foi achada dentro do meu joelho. O outro médico não tinha visto a pedra dentro do meu joelho. Imagina se ele tivesse costurado com a pedra dentro.
O médico falou que daria 3 pontos largos, já que não tinha muito tecido e me mandou tomar uma anti-tetânica. Ele costurou e me mandou para casa. Voltei para o aeroporto, voltei para São Paulo e fui direto para o médico do convênio que disse que estava bem costurado (Foto 10) e que deveríamos esperar para ver se poderia haver infecção. No caso de uma infecção seria necessário descosturar, tratar a infecção, só então costurar de novo.
Foto 10 - Depois do acidente de moto e de ser costurado num Hospital Público em Palmas de madrugada
Depois de uma semana (Foto 11), já estava bem melhor e a infecção já estava descartada. Ufa! Que sufoco!
Foto 11 - Depois de uma semana, já me recuperando em SP
Foto 12 - Prateleira de supermercado em Ponte Alta, repare na pinga 51, separando as bebidas dos produtos de limpeza
Foto 13 - Portal do Jalapão- Ponte Alta do Tocantins
Depois desta viagem, descobri que sou mortal. Quando somos jovens acreditamos que temos o corpo fechado. O homem é muito frágil, qualquer descuído pode ser fatal. Graças a Deus que estou praticamente zero bala. Só tenho um pouco de dor quando dirijo, mas acho que isso já é o começo da velhice chegando e não tem nada a ver com o acidente.