Eu já tinha ido anteriormente na Ilha de Cotijuba. Para chegar lá é necessário pegar um ônibus na frente da Basílica de Nazaré em direção a Icoaraci. O trajeto demora em torno de 50 minutos, sendo necessário pedir para descer no ponto, em que é possível pegar um barco para a Ilha de Cotijuba. A viagem de barco para Cotijuba dura cerca de 1h, com direito a ver várias casas de ribeirinhos pelo caminho.
O Nome Cotijuba significa "Trilha Dourada", em Tupi. A Ilha foi um Educandário (Foto 01), construído para abrigar menores infratores, a partir de 1933, quando a criminalidade em Belém aumentou enormemente, em virtude do declínio da extração da borracha. Junto com o Educandário foi instalado um presídio que abrigou presos comuns e presos políticos. Em 1977, o presídio foi desativado e os presos transferidos para Belém. Dizem que o último preso morreu em 2005, acabando de vez com o sofrimento desta ilha.
Foto 01 - Ilha de Cotijuba - Pará
O mais pitoresco fato desta ilha é que o transporte é feito em bondinhos, puxados por tratores (Foto 02, 03 e 04). Não há carros nem ônibus na ilha, somente, bikes, motos, tratores e charretes. Nos finais de semana esses bondinhos puxados por tratores ficam lotados de turistas de Belém, sendo necessário esperar os próximos para tentar subir e voltar para o porto.
Foto 02 - Trator na Ilha de Cotijuba - Pará
Foto 03 - Ilha de Cotijuba - Pará
Foto 04 - Ilha de Cotijuba - Pará
O melhor é cruzar na rua com outro bondinho puxado por trator na mão contrária (Vídeo 01).
Vídeo 01 - Passeio de Trator na Ilha de Cotijuba
Foto 05 - Transporte Público na Ilha de Cotijuba - Pará
Cheguei em Santarém, depois de 28 horas de barco vindo de Manaus. Antes de conhecer a cidade peguei um táxi e fui direto para Alter do Chão, o Caribe Brasileiro. Depois de ficar alguns dias em Alter voltei para conhecer Santarém, que fica as margens do imenso Rio Tapajós.
Foto 01 - Aeroporto de Santarém
Segue abaixo, uma escultura tapajônica dos antigos ancestrais dos índios habitantes da região (Foto 02).
Foto 02 - Cerâmica Tapajônica
Em Santarém ocorre o encontro dos Rios Tapajós e o Amazonas. O Amazonas é mais barrento e marrom, enquanto o Tapajós é mais escuro. O Rio Amazonas tem maior velocidade que o Rio Tapajós, entretanto o Rio Tapajós é mais quente que o Rio Amazonas. Em virtude destas diferenças, as águas dos 2 rios, após o encontro, seguem por algum tempo lado a lado, sem se misturar.
Para ver de perto o encontro, fiz um passeio de barco que passaria na divisa dos 2 rios. O passeio começa no rio Tapajós (Foto 03), passando por uma conveniência flutuante onde é possível comprar refrigerante, cerveja e coisas para comer (Foto 04).
Foto 03 - Rio Tapajós - Santarém
Foto 04 - Conveniência Flutuante
Além da conveniência, o barco passa dentro de um igarapé para ver Vitórias Régias (Fotos 05), onde é possível tocar nelas e ver os espinhos (Foto 06), além de ser possível avistar vários ribeirinhos pescando (Foto 07), bem com casas abandonadas devido as cheias dos rios (Foto 08).
Foto 05 - Vitória Régia - Santarém
Foto 06 - Espinhos da Vitória Régia - Santarém
Foto 07 - Rio Amazonas - Santarém
Foto 08 - Rio Amazonas - Santarém
No final do passeio passamos pelo encontro das águas, onde é possível tocar na água e perceber a diferença de temperatura entre os dois 2 rios. O Rio Amazonas é mais barrento e frio que o Tapajós, enquanto que o Tapajós é mais escuro e tem menor velocidade. Na parte de baixo é possível ver o Rio Amazonas e na parte de cima é possível ver o Rio Tapajós (Foto 09).
Foto 09 - Encontro das Águas dos Rios Tapajós (escuro) e Amazonas (barrento)
Foto 10 - Encontro das Águas dos Rios Tapajós (escuro) e Amazonas (barrento)
Foto 11 - Encontro das Águas dos Rios Tapajós (escuro) e Amazonas (marrom)
Foto 12 - Rio Tapajós - Santarém
Foto 13 - Por do Sol no Rio Tapajós - Santarém
Vídeo 01 - Decolagem de Santarem - Pará
Foto 14 - Vista do Avião de Santarém para Belém
Após visitar Santarém, decidir ir de avião para Belém (Fotos 01 e 14), pois de barco demoraria cerca de 3 dias.
Quando estava em SP, comecei a pesquisar sobre a região do Tapajós e descobri a cidade de Belterra. A cidade de Belterra foi fundada por americanos em 1937, juntamente com a cidade de Fordlândia. Eu já tinha ouvido falar sobre a cidade de Fordlândia, que tinha sido fundada pelo americano Henry Ford, com o objetivo de produzir borracha na amazônia. Henry Ford implementou nos EUA, a linha de montagem em sua fábrica de carros em Detroit, entretanto não tinha a matéria prima da borracha para os pneus de seus carros. Para resolver este problema, Ford adquiriu quase 15 mil km² no Brasil, com o objetivo de plantar seringueiras para extrair látex e produzir borracha para as suas indústrias.
Apesar dos esforços, a fábrica não deu certo, já que um fungo, "o mal-das-folhas", devastou as plantações de seringueiras em Fordlândia. Além disso, algumas mudas de seringueiras foram roubadas e levadas para o Sudeste Asiático. Na Ásia, as mudas foram plantadas e a extração de látex começou a concorrer com o látex extraído no Brasil.
Para tentar resolver o problema com o "mal das folhas", foi criada nas margens do Rio Tapajós, a cidade de Belterra, uma última tentativa para a plantar seringueiras com técnicas mais modernas trazidas do Sudeste Asiático. Belterra era uma área mais ventilada que a Fordlâdia, o que poderia evitar a proliferação do "mal-das-folhas". Por 2 anos, de 1938 a 1940, este novo empreendimento foi o maior produtor mundial de borracha.
Apesar so sucesso inicial, a concorrência da borracha do Sudeste Asiático, bem como a descoberta da borracha sintética foram determinantes para a falência do empreendimento, o que acabou de vez com as aspirações de Henry Ford de continuar a plantação de seringueiras na Amazônia para a produção de borracha natural.
Foto 01 - A Caminho de Belterra
Segue abaixo, o mapa da região do Tapajós (Foto 02), que mostra a cidade de Santarém, no encontro dos Rios Tapajós e Amazonas, além das cidades de Belterra e Fordlândia. A cidade de Belterra era chamada de Bela Terra pelos americanos. O "a" foi suprimido e o nome da cidade foi mudado para Belterra.
Foto 02 - Mapa da Região
Para chegar em Belterra, eu peguei um ônibus coletivo em Santarém (Foto 01), que demorou cerca de 1h e 30 min de viagem. Logo ao chegar em Belterra, percebi a diferença entre as cidades da Amazônia e Belterra, principalmente no tipo de construções como pode ser visto na igreja (Foto 03).
Foto 03 - Igreja em Belterra
Para maiores informações sobre a cidade fui no Centro de Memória de Belterra (Foto 04), antiga casa dos médicos. Lá vi um mapa com as plantações de seringueiras da região, divididas em quadrantes (Foto 05), além de poder descobrir mais coisas sobre esta cidade surreal no meio da Amazônia. Dizem que a cidade de Fordlândia, ainda tem restos das fábricas e quase se tornou uma cidade fantasma. Pena que não deu tempo de ir lá, mas algum dia ainda voltarei para a região.
Foto 04 - Centro de Memória de Belterra
Foto 05 - Mapa das Plantações de Seringueiras - Belterra
É bem surreal ver uma cidade cheia de casas no estilo americano no meio do Estado do Pará (Foto 06 e 07). Além disso, Belterra tem uma bela escola e um grande hospital, que estão em ótimo estado de conservação, diferentemente dos padrões brasileiros.
Foto 06 - Casas construídas por Americanos - Belterra
Foto 07 - Casas Americanas - Belterra
Tive informações que não há mais americanos morando em Belterra, já que a área foi vendida novamente ao Brasil. Os americanos nos áureos tempos de Belterra, com a ajuda dos trabalhadores brasileiros plantaram cerca de 3,3 milhões de mudas de seringueiras em Belterra. Além do "mal-das-folhas", após a saída dos americanos, o corte para extração do látex começou a ser feito na parte de cima das copas das árvores. Este tipo de corte é mais produtivo, entretando acaba matando as seringueiras, talvez por causa da diminuição da seiva elaborada que é transportada pelo floema das folhas para as raízes (utilizei todos os meus conhecimentos de biologia do colegial para eleborar esta teoria, que com certeza deve estar equivocada). Só sobraram algumas áreas preservadas como pode ser vista na (Fotos 08). Acho que nunca tinha visto seringueiras pessoalmente. Apontei para uma árvore e perguntei para um cara se era uma seringueira, obtive como resposta que a árvore era uma mangueira. Pelo que você viu, manjo tudo sobre árvores, principalmente seringueiras.
Foto 08 - Seringueiras - Belterra
Vídeo 01 - Seringueiras - Belterra
A cidade de Beltarra é bem organizada e limpa, com enormes casas que pertenciam aos cientistas, engenhieros e médicos americanos e casas mais simples para o resto dos trabalhadores americanos (Fotos 09 e 10), que já possuíam em 1937, água encanada e sistemas de hidrantes para apagar incêndios em toda a cidade (Fotos 11 e 12), bem como nas plantações de seringueiras.
Foto 09 - Rua Principal de Belterra
Foto 10 - Casas Americanas - Belterra
Vídeo 02 - Casas Americanas - Belterra
Foto 11 - Hidrante - Belterra
Gostei muito da visita a cidade de Belterra, pois pude conhecer um pouco mais sobre a história do Brasil, que ainda é pouco estudada.
Depois de 28 horas no barco saindo de Manaus, finalmente cheguei em Santarém. Resolvemos pegar um táxi direto para Alter do Chão, o Caribe brasileiro. A viagem durou cerca de 40 minutos até o centrinho de Alter do Chão. Chegando lá, encontramos um dono de uma pousada, o John Lenon, que também organizava passeios nos arredores de Alter. No dia seguinte, fomos a Ilha do Amor. Para chegar lá é necessário pegar um barquinho que custava R$ 5,00 (Foto 01).